quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Progressão

Poupe-se de especulações patológicas restringindo-se ao último parágrafo.
Em minhas ocasionais estadias em ares rio-pretenses(diga-se aqui, têm sido semanais, enfim), tento não perder o hábito de incluir em meu itinerário uma rápida(Fernando que o prove)bisbilhotada nos sebos(esta sem segundas intenções).Há grande estase de volumes, mas amiúde encontro algo digno de meu interesse.Foi o que ocorreu nesta sexta-feira última.Na seção de literatura médica estava uma publicação cuja impressão datava de 1934, e em sua contracapa, a caneta, o antigo dono marcou seu nome seguido de ''Odontologia, universidade de São Paulo, 1942''.Era a versão traduzida da original francesa, logicamente; se hoje carecemos de livros nacionais mesmo em áreas de pouco investimento, como anatomia, naqueles tempos era sorte lograr um tradutor apto a nos conceder publicações européias.O que me seduz nesses livros científicos já há muito com páginas acidificadas: o conteúdo com intensa desproporção com o atual âmbito de sabedoria.À análise do capítulo ''Tumores'' encontrei argumentos dignos de nota por minha parte(adaptado):
Do desenvolvimento dos tumores(teorias): os neoplasmas originar-se-iam de encravamento durante o período embrionário; mais tarde, diminuindo a resistência dos tecidos vizinhos, as células ectopiadas começariam a se proliferar exuberantemente.Em face desta concepção autógena, levanta-se a teoria do parasita exógeno, que data de Sydenham e van Swieten.
A hereditariedade se encontraria em torno de 10 a 15%.
Muito freqüentemente para que se possa negar, há atribuição pelo doente de traumatismos anteriores ao surgimento dos tumores.
A sífilis parece desempenhar um fator mais importante que o fumo nos epiteliomas de lábio.
As irradiações constantes pelos raios de Röntgen provocam uma dermatite, que freqüentemente sofre transformação epiteliomatosa.
O câncer dos limpadores de chaminés deve ser atribuído a princípios químicos, alcatrão ou produtos arsenicais presentes na fuligem.
Pode-se obter desenvolvimento de epiteliomas, com pincelagens repetidas de alcatrão em orelha de camundongos.
Do tratamento: a medicação interna é inteiramente inútil, não existem específicos, nem anti-sépticos que lhes oponham.Há alguns anos utilizam-se radiações no tratamento dos cânceres, conseguindo-se, já, resultados interessantes.

Enfim, com textos similares valorizo por mim o avanço laboratorial que representou a introdução da microscopia eletrônica, em 1932.Como mencionou um patologista, meu tutor, até então sabia-se que a célula era uma unidade delimitada por uma membrana dentro da qual, no líquido citoplasmático, evidenciava-se as mitocôndrias, e que possuía em seu centro uma estrutura arredondada, o núcleo, dentro do qual talvez se pudesse evidenciar o nucléolo.Como situaria a ciência hoje, com essas informações somente?E como seria, sem elas como arcabouço?

A despeito da filosofia estritamente cientológica, demonstro-me envolto em uma fina camada de sensibilidade, uma malha de fios débeis.Frágil a estímulos corriqueiros; palavras perdidas, corpos em trânsito, ruídos melodiosos, luzes sombreadas, cores neutras.Atento ao mais leve contato, ao atrito sóbrio; à flor da pele.

2 comentários:

  1. É bem legal ver como as coisas evoluíram né ? Acho fascinante também. Mas fico pensando em quanto tempo tudo o que estamos estudando se tornará obsoleto...E me dá uma sensação meio estranha, enfim. Agora, posso duvidar de que suas visitas ao sebo sejam desprovidas de segundas intenções ?

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