domingo, 29 de maio de 2011

Limiar

Depois de muito arranhar, lesar e estraçalhar, coisas pequenas, coisas grandes, jogam-nos, progressivamente, em direção a um nadir característico onde susceptibilidade e fragilidade são o conteúdo dominante. Lá então nos pegamos; os dias passam, o mundo gira, e fatores perniciosos, os mais ínfimos, ubíquos no itinerário, são de força suficiente para nos agredir significantemente: o comentário solto, a mudança no tempo, a menor lembrança, o estímulo de qualquer natureza, os deveres básicos.
Por conseguinte nos acomodamos por detrás de um escudo fruto, peculiar dos que já em muito se decepcionaram; não queremos contactos, exposição, situações em que possa nos ser demonstrado algum transtorno adicional. Como adversidade a esta proteção é trazido um fator agravante: a solidão. Estamos, então, no ponto mais baixo, cercados por nossos monstros, e sem ninguém. Imploramos, amiúde, por ajuda, mas não há como alcançar. Estamos sós, sufocados, e pressionados por um peso crescente. Por várias e várias vezes colocamos as mãos na cabeça, ou algum outro gesto físico demonstrativo de desespero, e acreditamos, por instantes, não haver como seguir em frente - sentimos estar chagando o momento de descompensação completa. E nestes freqüentes, e cada vez mais freqüentes, desesperos nos angustiamos ainda mais, ao sentir o perder de oportunidades, o o exaurir do tempo: não nos agüentamos. Nos direcionamos à amargura e frieza, talvez irreparáveis, tipicamente humanas, dos que sentem, dos atormentados, dos inconstantes.
Procuramos, então, quando com energia, meios de resgate, mesmo que no inconsciente(aqui eles sendo na maior parte das vezes inrentáveis e enfadonhos). Em circunstância das limitações vigentes, acabamos no máximo por, quando com sucesso, findar conclusões, extipular metas, porém o agir está ainda inatingível.
Tal como chega, vai. A ação volta a fazer presença, os objetivos são, novamente, alcançados, com maior ou menor esforço. E aqui há como marco o aclive, com o nadir cicatrizando e se distanciando na progressiva, tortuosa, unidirecional e limitada linha da vida. Ele se crava lá trás, antecedendo o imprevisível e obscuro próximo outro, até que se manifeste, por fim, o último.

''E cada qual no seu canto,
em cada canto uma dor''

Porque sei ser maior que meus inerentes altos e baixos;
Ribeirão Preto/Sp, 20:55;