sábado, 21 de junho de 2014

Monossexual

Como jovem do início do século XXI, pergunto-me amiúde sobre o inexorável idealismo monogâmico da sociedade ocidental, que abala os instintos mais primitivos do ser humano, mas continua como padrão social de moral e bons costumes. Já tivemos a geração baby boom, as pílulas anticoncepcionais e as minissaias, o movimento feminista e direito de prazer sexual às mulheres, e mais recentemente o reconhecimento da identidade transgênera, o movimento gay, a normoconscientização do sexo oral e anal entre os heterossexuais. Mas permanece irrefutável o ideal de monogamia entre casais, os mais variados, como padrão de base da família. Definição interessante esta, a de família: o casal copula, procria e segue toda a vida unido, como prova de dignidade e amor eterno.
O DNA estremece, está escrito lá, se você pegar para analisar os nucleotídeos dos cromossomas sexuais você lerá em letras maiúsculas: o sexo é instintivo, a monogamia é artificial, não existe amor eterno, não existe tesão que dure uma vida inteira. É ridiculamente óbvio para ser encarado pela população cristã como fato real, porém toda população é vítima deste maravilhoso fado. É ridiculamente nítido na história da humanidade que a monogamia não funciona, que o casamento não dá certo, e que a traição não é a maior falha do relacionamento. A traição, a propósito, é o quê? Eu nunca entendi ao certo, sinceramente. Transar com uma terceira pessoa, beijar, dar pinta, gozar pensando em pornografia, olhar a bunda de um transeunte. Tudo isso é traição, sociedade? Então me revelem uma maneira de evitar o adultério, de evitar me acordar molhado de um sonho fantasticamente real e estupendo. Oh, sim, o melhor e mais bem aceito método é fechar os olhos, e continuar a vida a despeito de toda a natureza de nosso sangue. Não há meios para o qual, e caminhamos ao relento, vivendo relações que serão descartadas pelo nosso subconsciente pelas mais diversas causas: culpa, descrença, medo, raiva, nossa mãe, o primo com o qual se se masturbava na infância e sabe lá Freud o que mais nessa porra toda que é nossa psique vulnerável. Mas aí estão eles, os casamentos, os noivados, as alianças de ouro, as bodas de lata, e as famílias felizes correndo no parque nas tardes de domingo, com os cachorros tendo o cocô empacotado em sacos plásticos para ser descartado por um bom cidadão. Por trás dos bastidores sempre a mesma história: uma secretária carente, uma empregada sem vintém, um cliente simpático e receptivo com a cura para todos os males, as bundas enlaçadas num justo biquini amarelo gema, e lógico, as mentes com as mais sortidas pertubações que o casamento pode causar. Vamos ir, continuar a seguir frente a este teatro cujo palco é o século XXI ocidental, com as famílias sofrendo os mesmo males de toda a história da civilização.

 A verdade é uma só, a humanidade sempre girou em torno de drogas, sexo, dinheiro e diversão para se esquecer desta realidade. Só muda a tecnologia na qual está inserto o ser humano para saber como ele vai atuar e dançar esta música maravilhosa que é a vida.

"Quando repara no meu cabelo
Quando pergunta do meu passado
Quando precisa comprar cigarro
Porque acordado de um pesadelo
Quando sai cedo terno escovado
E volta como quem foi linchado
Ele acredita que me engano
Pensa que sabe mentir o homem que eu amo
Ele acredita que me engano,
Pensa que sabe mentir o homem que eu amo"
São Paulo/SP, 19:09;

quarta-feira, 26 de março de 2014

Busca

Em janeiro do ano passado entrei numa vibe de bitolação total no meu projeto residência médica 2014, abracei a doença mesmo, sem medo da brincadeira. Não faltou perturbação mental, garanto a cada um. Foram várias as noites de sonhos com provas e resultados, lindos finais de semanas banhados a cafeína, e poucos os momentos para resolução do meu quadro mental. A coisa andou de maneira que consegui, mais uma vez, parabéns, esquecer de tudo o que tange a minha existência transtornada. A despeito desta minha ênfase constante(nos posts, inclusive), meu namoro se manteve, apesar de que com algumas mudanças sutis, como a abertura do relacionamento e o decrescente da atividade sexual; quanto a minhas amizades, se mativeram também, com menor intensidade de comunicação geral, porém com a reserva garantida, como ocorre com todos velhos bons amigos. Sem delongas, guardei pra residência médica a responsabilidade de resolução de todos os meus problemas, a esperança de uma nova vida(nova cidade, novo lar), era ela o meio de fuga de tudo aquilo que me envolvia, que me consumia. Fuga e resolução. Não lhes admiraria que esteja agora eu colhendo amargos frutos desta minha errada obstinação. Que bola fora, meus amigos. E estava tudo ali, escrito nas estrelas, diariamente... mas não, as portas para o novo mundo eram prometidas.
Enfim, foi um grande método para adiar meus grandes empecilhos psicológicos. Não serei ingrato, confesso que cresci em demasia, em especial com meus conhecimentos médicos, não foram horas e horas diárias jogadas no lixo, não foram, não. Consegui, sim, crescer profissionalmente. Profissionalmente, e só.
Acordo agora na vida para qual lutei durante um ano, na cidade nova, na residência, perto de meus amigos; acordo vazio, sem satisfação, pois acordo todos os dias sem objetivo, sem uma expectativa ilusória de melhora, sem um meio obsessivo de me enganar completamente. 
A realidade me bate na cara todos os dias, e é esta, nua, crua, amarga, rançosa.
Terei de arranjar mais alguma baboseira com que me alimentar,  porque eu não me agüento. Haverá paradeiro aqui dentro? Com a nova vida, e a nova crise que se me aparece, foi-se meu namoro, minha motivação, meu humor, meu não desejo de ebriedade. Pergunto-me se conseguirei focar a vida no profissional, e me tornar um daqueles velhos que vejo na universidade todos os dias, me enchendo de merda a cabeça, tão bitolados quanto qualquer outro, em suas vulvas, seus exames, suas contas bancárias, suas hierarquias suas porcarias particulares; porém me enoja este fado. Quero fazer de meu fado outro, mais leve, menos material, menos bitolado. Mas não consigo, atualmente, fugir da mentalidade de que meu rastro já está pronto a jusante, construído em concomitante com minha personalidade perturbada, que eu ainda hei de conseguir desvendar(forças sobrenaturais pra conseguir acreditar nesta porra toda).

"Haverá paradeiro
 para o nosso desejo,
 dentro ou fora de um vício?

 Uns preferem dinheiro,
 outros querem um passeio
 perto do precipício

 Haverá paraíso,
 sem perder o juízo e sem morrer?"

São Paulo/Sp, 17:13;

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ângulo

Foram diversos os acontecimentos corriqueiros que me fizeram hoje estar por aqui, e a maioria acontecida agora cedo mesmo.
Em meu penúltimo estágio do curso, optativo, estou passando com um grupo de internato do semestre anterior ao meu, na seção de emergência do hospital, grupo este composto exclusivamente por meninas, cerca de 10 delas. Após 3 semanas de convívio diário, foi apenas hoje, em meu último dia com o grupo, que me entretive em uma conversa mais intimista, quando falavam entre si sobre seus relacionamentos. E então foram, naturalmente, surgindo as esquisitices particulares das relações humanas que envolvem, além do coito, o, mais complexo talvez, convívio diário, em tom de conversa de bar. Ulteriormente foram destacados  pontos outros, corriqueiros, porém de grande peso ideológico, na conversa: a figura do homem, crenças e rituais religiosos, concepção de família, e mais destes que embasam os maiores tormentos da psique humana desde os mais remotos e documentados tempos. As peremptórias chagas da mente humana, residentes ainda hoje, na era da revolução das micro-partículas. Enfim, estava com uma amostra não estatisticamente significante de adultas jovens de classe alta do começo do século XXI, quando ouço uma voz comentar do fatídico dia em que teve de rachar a conta no restaurante, com seu ficante do dia, quando outras vozes assumiram o recinto com comentários irônicos e risadas de deboche. Outra voz, com tom de incredulidade, afirmava ser o fim dos tempos, ter de pagar conta no primeiro encontro. O professor, na casa dos 30 anos, já casado, terminando de preencher uma prescrição, falou algo sobre o machismo feminino, que foi logo desprezado por aqueles ouvidos adornados com brilhantes. Eu só a escutar, já me inchando, desconfortável, deglutindo palavras. Outra dondoca(gosto de chamá-las assim), disse de sua criação, onde o homem é o chefe da família, e que não conseguia ver de outra forma(estou usando as palavras que lhe saíram da boca, maestrada por pares cranianos de um encéfalo carreador de genes caprichosamente selecionados em bilhões de anos), como se se defendendo de maneira imparcial, vitimizante, dos ideais meritocráticos que se destacam no contemporâneo. Quando terminou sua defensiva, várias outras delas, as dondocas, argumentaram em favor, dizendo uma safadinha, ainda, que tinha o homem como imagem de o provedor da casa, pra pagar a escola das crianças, as despesas do lar(provavelmente um adorável e puritano lar cristão, despido de mágoas e outras fatalidades inerentes aos resquiciosos desejos do instinto). Foi quando mudou-se o assunto, já que a dondoca do meu lado estava preocupada em perder o carnaval do ano subseqüente por conta de plantões na enfermaria(paradoxais, classificaria os recentes últimos minutos).
Aproveitando brecha, uma Barbie orgânica iniciou receoso sentimento para com a semana santa, a qual gostaria de passar em companhia da família, e não preenchendo plantões de enfermaria. Inclusive porque esta era uma data muito importante para toda a família, que se reunia, ia à missa, e no domingo, felizes comemoravam o milagre de seu Messias. Porém, em meio a tanta alegria, não pôde deixar de reclamar de sua última promessa de quaresma, quando ficou 40 dias sem comer doces. Ela havia quase chegado à loucura, desesperada, já que, em sua ânsia maior, não podia de forma alguma(?) comer os doces. Foi quando, então, dando de desentendido, comecei a perguntar o motivo dos 40 dias de sacrifício, que me foi explicado pelas presentes. Abstenção de um prezado prazer como sacrifício, durante a quaresma, como representação(um tanto quanto mais sutil, só dizendo) da piedade por seu Messias.
Enfim, dos fatos de destaque perturbador em minha mente cotidiana matinal, creio serem estes os de maior.
Pra finalizar, algo outro que me foi colapsante ocorreu quando em casa, em meu computador, no horário de almoço. Li, em um site feminista, um texto de crítica a uma empresa de sapatos femininos que está gerando polêmica na internet. A razão é que usaram, em suas propagandas de dia das crianças, uma rebenta de 3 anos, usando calcinha, sapatos tamanho adulto, colar de pérolas e batom vermelho assumindo posições hiperssexualizadas, inclusive com gestos provocativos como olhares e biquinho com a boca. Vendo as fotos, algumas críticas e outras justificativas por parte da mãe da pré-escolar, dei por mim sem posição alguma, por não ter acesso, sinceramente, a embasamento algum do qual partir em meu estoque particular de ideologias. Talvez o infinito particular precise de algum tipo de dimensão, não perceptível por ele mesmo, em sua infindável magnitude, para atingir pareceres, mesmo maleáveis, quanto a fatos consumados por parte dos mais limitados conjuntos neuronais pensantes.
Estou ainda a achar a parte que me cabe nesta loucura toda, grande brincadeira macabra do acaso em seus mais inspirados estados.

"Pro caso de o acaso estar num bom dia
pro caso de o destino me haver reservado a alegria
E o meu fado estar fadado a ser sua sina

Eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
Pro caso de você errar a vereda
e acertar o elevador
Pro caso de o acaso estar inspirado
E emaranhar, por capricho, tempo e espaço
Cruzando as nossas linhas soltas num laço"


Ribeirão Preto, 23:28;

sábado, 11 de maio de 2013

Redor

Há alguns dias, após comprar frutas frescas e cervejas no mercado perto de casa, estava eu saindo do estacionamento quando reparei em algo que um pouco me abalou. Corriqueiro, casual. Após atravessar a cancela, entrei no caminho de saída, e parei logo atrás de um carro, que esperava para entrar na via a jusante. Neste carro havia um típico casal de idosos, daqueles que a gente vê e dá uma leve risada sem saber o motivo real. Me pareciam cristãos. O senhor estava no comando do Corcel, com a postura inerente à senilidade habilitada - o peito próximo ao volante, óculos de lentes grossas afundados no nariz - , e sua esposa ao lado tinha nas mãos um panfleto, de um supermercado da concorrência daquele do qual acabávamos de sair, que ela analisava. Tenho esta imagem nítida ainda agora, aqui; tudo bem, não faz nem uma semana, mas digo que o recordo claramente devido à ausência de proeminâncias na cena em si.
Cabelos ralos, articulações gastas, cristalino opaco, pele fina, reservas depletadas, lesões pré-cancerígenas. As mesmas preocupações, os mesmos desfocos inúteis, os ciclos viciosos, auto-defesas.
Só espero não me preocupar com as promoções da semana daqui cinqüenta anos.
A verdade é que quero morrer cheio de paixões.


"Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular"


Ribeirão Preto/Sp, 23:23;

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Miscelânea


Sei que não abandono este, tal como outros tantos, exercício por falta de gosto. Mas a profusão mental acaba me afastando de tanto, e, verdadeiramente, continuo sem entendê-la. Este é o ponto, o ponto é este(como diria-me um grande professor). E concordo que não foi o melhor momento pro útero de minha terapeuta resolver gestar, assim do nada. Em suma, pra falar no português, não tão, mas moderadamente perdido, como de hábito.

Evoluí com minhas neuras, minhas manias, minhas obstinações a tal ponto que acabei por decidir que sim, e obviamente, eu precisava de ajuda pra sair de sei lá onde estava. Realmente neste final de 2012 e início de 2013 as coisas dentro de mim não estava muito felizes, e, por conseqüência, acabei me introsando em um ciclo vicioso de choros espontâneos, obsessões, compulsões, adinamia, irritabilidade e apatia.Até que agüentei um bom tempo ciclando assim. Foram caixas e caixas de cereais matinais compradas, idas e idas aos mais diversos mercados que esta Ribeirão Preto tem a me oferecer, sabonetes, papéis-toalha, amaciantes, sabões líquidos, canetas, grifa-textos(clássicos, comprei 60 destes safadinhos), cafés instantâneos, capuccinos, caixas de cerveja, até uma samambaia comprei. Bom, sempre soube como pôr o pé no chão, o meio sempre temos, mas a atitude é que me carecia, confesso. Acabei por colocá-los, talvez mesmo que apenas as pontas dos pés, sobre este chão poroso e resistente; chega de sertralinas, tricíclicos, algazarras sinápticas e purpurinas cloretadas. Busquei auxílio psicoterapêutico, simpatizei com uma psicóloga quarentona(ou quase isso), gordinha, com ar de sabedoria e de um temperamento aparentemente leve. Foram alguns pares de sessões na quais conversamos sobre minha personalidade, minha infância, minhas crenças, meu existencialismo, minhas barreiras e minhas inseguranças. Foi engraçado perceber, amedrontador francamente, as características mais nítidas e óbvias de minha personalidade, que estiveram aqui, comigo, este tempo inteiro, de modo completamente irrelavante à minha consciência. Não neguemos o macabro que é a opressão inconsciente destes destaques gritantes para nossa consciência. 

Quando, então, íamos pormenorizar meus bloqueios sexuais, lá no âmago, fato julgo ser o mais pertubador para mim como um todo, a Dra. dondoca engravidou, gestação de alto risco, e cá espero por uma resolução do quadro(bom ou não para o feto), e sem gorar nada, por favor.
 Assumo que fugi dos assuntos que abarcavam minha sexualidade, como o fazia com minhas outras terapeutas. É o mais perturbador pra mim, não sei o que sairá daí de dentro, e não me recordo integralmente de fatos que, porventura, aparecem-me como flashes, fatos estes que fazer parte de todo este tormento sexual, e o que me resta é angustiar. Acaba que, vire e mexe, eu não me agüento. Talvez eu esteja cortido demais. O que sei é que não poderei suportar mais por muito tempo, não posso esconder meus desarranjos no chalé  frio nas montanhas, na vida da década de oitenta, nem em 16 caixas de cereais coloridos artificialmente que contêm glúten. A verdade é tão escancarada. A verdade é tão inacessível. A verdade é tão dificultada. Estou com tudo nas mãos e não posso nada.



Quanto à faculdade, bela faculdade, o sexto ano tá bombando, e o peso da responsabilidade tombou pro meu lado lá em outubro do ano passado, no HSPE, quando me dei conta do conhecimentos das pessoas que me cercavam. Acontece que o peso foi cair mesmo no começo deste bendito sexto ano, pra minha alegria. Prognostiquei minha jornada até o meio de novembro, quando começam as lindezas das provas, e até então sinto que o fardo está sendo mais leve do que julguei inicialmente. Tenho cumprido minhas metas, não com facilidade, na batalha, mas de boa. Eu me acostumei a estudar, e, principalmente, aprendi a gostar de estudar, lá na segunda etapa do curso. Foi o que mais facilitou pra mim. Embora haja, indiscutivelmente, aquelas áreas em que a peleja é maior, como a cirurgia, mas também nem tanto maior. O maior é o medo, a bem dizer. Isto espelha um fato absoluto em situações das mais variadas gravidades e características na vida. Whathever.Foi que, findando o ano passado, me vi enquadrado na prática clínica da neurologia, decidi, portanto, investigar minha afinidade com a área para poder lucrar com decisões concretas para guiar meus estudos. Me senti em terra firme, tive com profissionais da área, conversei, bati papo, vi os ossos do ofício, e, assim, digo que ainda me vejo apto a fazer desta uma profissão para mim. A questão que dói, notória em se falando de medicina, são as outras opções. Definitivamente já saquei que o lance comigo é a clínica. Nada de corte e costura, obrigado. Meu estágio de cirurgia foi um tremendo pé no saco. Nada de interessante para mim. Obrigado, dona Maria, mas sua pedra na vesícula não me agrada. Valeu seu João, mas sua úlcera gástrica é um grande bla bla bla pra mim. Continua minha paixão pela área reumatológica, linda, mas afirmo com força(não tanta, também) que me nego a ouvir pacientes poliqueixosos com crises somatoformes, OA ou fibromialgia em 80% do meu tempo. Será que os 20% compensariam? É o que ainda me pergunto. Também há outras magníficas opções em se tratando de clínica médica, vejam só, vejam só. Mas o problema que me aflige é este, exatamente, a clínica. Pra deixar claro, a residência de clínica médica, ou escravidão hospitalar, como preferir. 2 anos rodando o hospital pra virar um pato, e ter, ainda, que prestar novamente estas  belezinhas de provas pra entrar na residência de especialização clínica.
Mudando de direção, ando buscando minha ideologia de vida, e que não soe à Cazuza. Este meu nadir rendeu-me muitas reflexões, esotéricas até, as quais somei com minhas crenças místicas já vigentes em minhas concepções, o que acabou resultando em um conglomerado desorganizado de informações. O legal é que tenho mais esta pedra pra polir(sexualidade, espiritualidade, personalidade, vínculos, residência). Tenho descoberto  que, jocosidade zero, talvez esta margem social, este esoterismo todo, seja confortável pra mim. O que mais gozo no dia-a-dia é a leveza, por vezes inatingível. Hei de me resolver com ela...
Trocando em miúdos creio as poucas sessões de terapia terem me feito muito bem, e as quero de volta, antes que caia novamente. Não estou em condições de levar a menor queda, a mais mínima. Vou que vou no meu projeto residência(apesar de não saber com convicção aonde ele me leva, mas enfim). Ainda aprendendo a lidar com estes cristãos, que impregnam meus dias. Aberto, extremamente aberto, para tantas quantas possíveis novas e transcendentais jogadas.


"Nem pensei
-Impulso-
Pra sanar um momento
Silenciar barulhosMe esqueci de respirarUm, dois, trêsEu paroHoje sei que tenho tudo-Será?-Escrevi em meu colarDentro há o que procuro"


Ribeirão Preto/Sp. 22:43;


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Desfoco

As falsas esperanças das mentes pequenas e limitadas; esperanças estas que não contornam os pensantes. Fatores angustiantes, sempre os mesmos, os objetivos estipulados nunca lhe dizendo respeito: o nascimento da verdadeira falsa esperança. Novo ano, entrada na faculdade, dieta, roupas novas, reforma da casa, novas amizades. Satisfações fugazes que não preenchem. Enfado de nosso desenhado destino cíclico.
Tudo cá, na nossa cara, como sempre esteve, mas não enxergamos. O óbvio, por tão proeminente, torna-se obscuro: a verdade está escancarada, mas não vemos; não por não querer, sim por não podermos(é demais para nós, as conseqüências talvez sejam seqüelantes).
As metas, sentido da existência, a energia para que levantemos a cada manhã, seguem deturpadas. Não nos cansamos de nos iludir, não poupamos criatividade nas evasivas, com este indecifrável-infindável inconsciente que nos governa, o inconsciente que vive. E todo o princípio, a sã etiologia, bem no fundo, intocado e despercebido, como um peso morto a nos puxar, e qual carregamos, enquanto nos guiamos a conseguir nossos medíocres e malestipulados alvos.
Infundados que são nossos surtos, infundadas que são nossas angústias e frustrações - a
prova final, a torneira que pinga, a calça que não fecha, o conhecimento a ser digerido, o atraso do professor. Pro inferno com as superficialidades, cansado que estou. Tiremos esta venda dos olhos, mergulhemos mais fundo, na emaranhada malha escusa do âmago que retêm os transtornos, os que verdadeiramente inflamam a alma, cronicamente, e que, como no orgânico, abalam as funções normais, invalidam. O mal pela raiz, a semente de nosso caos.
Visando uma proteção irracional e inconsciente, ignorando a verdadeira moléstia-causa, vítimas de nós que somos, nos cercamos em um abrigo de poucas oportunidades. Abrigo-mãe de preconceitos, tabus, desprezos, julgamentos. Desta maquinaria protecionista saem privações, as mais variadas e limitantes. Nos restringimos a cada erro, desconserto, decepção, abalo, arrependimento, frustração(os dessabores inerentes da vida). Erguemos não valores expansivos, e sim conceitos restrictivos, que nos reprimem mais em nosso abrigo. Não expandimos, estreitamos.
Restricção, limitação, repressão, tamponamento, e o Mundo inteiro que gira, na nossa cara. A verdade é que jogamos sujo com nós mesmos. Podemos passar a vida inteira completamente enganados, para morrer sem saber o que somos, em verdade, o dom dos derrotados.
Nos fechamos progressivamente em resposta a falsos problemas, involuímos embasados na grande farsa da importância do totalmente inútil.

''Em cada espelho que eu olhava
Eu procurava e não me via
Toda gaveta em que eu mexia
Não tinha nada, tava vazia

Em cada rua que eu passava
Eu perguntava pra onde eu ia
Toda placa que eu seguia
Tava errada e eu me perdia

Vou sair
Não vou mentir
Eu não sou um bom lugar
Aqui eu já não fico mais

Vou mudar
Não vou parar
Não quero mais ficar assim
Eu vou começar por mim''

Ribeirão Preto/Sp, 22:17;

domingo, 29 de maio de 2011

Limiar

Depois de muito arranhar, lesar e estraçalhar, coisas pequenas, coisas grandes, jogam-nos, progressivamente, em direção a um nadir característico onde susceptibilidade e fragilidade são o conteúdo dominante. Lá então nos pegamos; os dias passam, o mundo gira, e fatores perniciosos, os mais ínfimos, ubíquos no itinerário, são de força suficiente para nos agredir significantemente: o comentário solto, a mudança no tempo, a menor lembrança, o estímulo de qualquer natureza, os deveres básicos.
Por conseguinte nos acomodamos por detrás de um escudo fruto, peculiar dos que já em muito se decepcionaram; não queremos contactos, exposição, situações em que possa nos ser demonstrado algum transtorno adicional. Como adversidade a esta proteção é trazido um fator agravante: a solidão. Estamos, então, no ponto mais baixo, cercados por nossos monstros, e sem ninguém. Imploramos, amiúde, por ajuda, mas não há como alcançar. Estamos sós, sufocados, e pressionados por um peso crescente. Por várias e várias vezes colocamos as mãos na cabeça, ou algum outro gesto físico demonstrativo de desespero, e acreditamos, por instantes, não haver como seguir em frente - sentimos estar chagando o momento de descompensação completa. E nestes freqüentes, e cada vez mais freqüentes, desesperos nos angustiamos ainda mais, ao sentir o perder de oportunidades, o o exaurir do tempo: não nos agüentamos. Nos direcionamos à amargura e frieza, talvez irreparáveis, tipicamente humanas, dos que sentem, dos atormentados, dos inconstantes.
Procuramos, então, quando com energia, meios de resgate, mesmo que no inconsciente(aqui eles sendo na maior parte das vezes inrentáveis e enfadonhos). Em circunstância das limitações vigentes, acabamos no máximo por, quando com sucesso, findar conclusões, extipular metas, porém o agir está ainda inatingível.
Tal como chega, vai. A ação volta a fazer presença, os objetivos são, novamente, alcançados, com maior ou menor esforço. E aqui há como marco o aclive, com o nadir cicatrizando e se distanciando na progressiva, tortuosa, unidirecional e limitada linha da vida. Ele se crava lá trás, antecedendo o imprevisível e obscuro próximo outro, até que se manifeste, por fim, o último.

''E cada qual no seu canto,
em cada canto uma dor''

Porque sei ser maior que meus inerentes altos e baixos;
Ribeirão Preto/Sp, 20:55;