sábado, 11 de maio de 2013

Redor

Há alguns dias, após comprar frutas frescas e cervejas no mercado perto de casa, estava eu saindo do estacionamento quando reparei em algo que um pouco me abalou. Corriqueiro, casual. Após atravessar a cancela, entrei no caminho de saída, e parei logo atrás de um carro, que esperava para entrar na via a jusante. Neste carro havia um típico casal de idosos, daqueles que a gente vê e dá uma leve risada sem saber o motivo real. Me pareciam cristãos. O senhor estava no comando do Corcel, com a postura inerente à senilidade habilitada - o peito próximo ao volante, óculos de lentes grossas afundados no nariz - , e sua esposa ao lado tinha nas mãos um panfleto, de um supermercado da concorrência daquele do qual acabávamos de sair, que ela analisava. Tenho esta imagem nítida ainda agora, aqui; tudo bem, não faz nem uma semana, mas digo que o recordo claramente devido à ausência de proeminâncias na cena em si.
Cabelos ralos, articulações gastas, cristalino opaco, pele fina, reservas depletadas, lesões pré-cancerígenas. As mesmas preocupações, os mesmos desfocos inúteis, os ciclos viciosos, auto-defesas.
Só espero não me preocupar com as promoções da semana daqui cinqüenta anos.
A verdade é que quero morrer cheio de paixões.


"Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular"


Ribeirão Preto/Sp, 23:23;

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Miscelânea


Sei que não abandono este, tal como outros tantos, exercício por falta de gosto. Mas a profusão mental acaba me afastando de tanto, e, verdadeiramente, continuo sem entendê-la. Este é o ponto, o ponto é este(como diria-me um grande professor). E concordo que não foi o melhor momento pro útero de minha terapeuta resolver gestar, assim do nada. Em suma, pra falar no português, não tão, mas moderadamente perdido, como de hábito.

Evoluí com minhas neuras, minhas manias, minhas obstinações a tal ponto que acabei por decidir que sim, e obviamente, eu precisava de ajuda pra sair de sei lá onde estava. Realmente neste final de 2012 e início de 2013 as coisas dentro de mim não estava muito felizes, e, por conseqüência, acabei me introsando em um ciclo vicioso de choros espontâneos, obsessões, compulsões, adinamia, irritabilidade e apatia.Até que agüentei um bom tempo ciclando assim. Foram caixas e caixas de cereais matinais compradas, idas e idas aos mais diversos mercados que esta Ribeirão Preto tem a me oferecer, sabonetes, papéis-toalha, amaciantes, sabões líquidos, canetas, grifa-textos(clássicos, comprei 60 destes safadinhos), cafés instantâneos, capuccinos, caixas de cerveja, até uma samambaia comprei. Bom, sempre soube como pôr o pé no chão, o meio sempre temos, mas a atitude é que me carecia, confesso. Acabei por colocá-los, talvez mesmo que apenas as pontas dos pés, sobre este chão poroso e resistente; chega de sertralinas, tricíclicos, algazarras sinápticas e purpurinas cloretadas. Busquei auxílio psicoterapêutico, simpatizei com uma psicóloga quarentona(ou quase isso), gordinha, com ar de sabedoria e de um temperamento aparentemente leve. Foram alguns pares de sessões na quais conversamos sobre minha personalidade, minha infância, minhas crenças, meu existencialismo, minhas barreiras e minhas inseguranças. Foi engraçado perceber, amedrontador francamente, as características mais nítidas e óbvias de minha personalidade, que estiveram aqui, comigo, este tempo inteiro, de modo completamente irrelavante à minha consciência. Não neguemos o macabro que é a opressão inconsciente destes destaques gritantes para nossa consciência. 

Quando, então, íamos pormenorizar meus bloqueios sexuais, lá no âmago, fato julgo ser o mais pertubador para mim como um todo, a Dra. dondoca engravidou, gestação de alto risco, e cá espero por uma resolução do quadro(bom ou não para o feto), e sem gorar nada, por favor.
 Assumo que fugi dos assuntos que abarcavam minha sexualidade, como o fazia com minhas outras terapeutas. É o mais perturbador pra mim, não sei o que sairá daí de dentro, e não me recordo integralmente de fatos que, porventura, aparecem-me como flashes, fatos estes que fazer parte de todo este tormento sexual, e o que me resta é angustiar. Acaba que, vire e mexe, eu não me agüento. Talvez eu esteja cortido demais. O que sei é que não poderei suportar mais por muito tempo, não posso esconder meus desarranjos no chalé  frio nas montanhas, na vida da década de oitenta, nem em 16 caixas de cereais coloridos artificialmente que contêm glúten. A verdade é tão escancarada. A verdade é tão inacessível. A verdade é tão dificultada. Estou com tudo nas mãos e não posso nada.



Quanto à faculdade, bela faculdade, o sexto ano tá bombando, e o peso da responsabilidade tombou pro meu lado lá em outubro do ano passado, no HSPE, quando me dei conta do conhecimentos das pessoas que me cercavam. Acontece que o peso foi cair mesmo no começo deste bendito sexto ano, pra minha alegria. Prognostiquei minha jornada até o meio de novembro, quando começam as lindezas das provas, e até então sinto que o fardo está sendo mais leve do que julguei inicialmente. Tenho cumprido minhas metas, não com facilidade, na batalha, mas de boa. Eu me acostumei a estudar, e, principalmente, aprendi a gostar de estudar, lá na segunda etapa do curso. Foi o que mais facilitou pra mim. Embora haja, indiscutivelmente, aquelas áreas em que a peleja é maior, como a cirurgia, mas também nem tanto maior. O maior é o medo, a bem dizer. Isto espelha um fato absoluto em situações das mais variadas gravidades e características na vida. Whathever.Foi que, findando o ano passado, me vi enquadrado na prática clínica da neurologia, decidi, portanto, investigar minha afinidade com a área para poder lucrar com decisões concretas para guiar meus estudos. Me senti em terra firme, tive com profissionais da área, conversei, bati papo, vi os ossos do ofício, e, assim, digo que ainda me vejo apto a fazer desta uma profissão para mim. A questão que dói, notória em se falando de medicina, são as outras opções. Definitivamente já saquei que o lance comigo é a clínica. Nada de corte e costura, obrigado. Meu estágio de cirurgia foi um tremendo pé no saco. Nada de interessante para mim. Obrigado, dona Maria, mas sua pedra na vesícula não me agrada. Valeu seu João, mas sua úlcera gástrica é um grande bla bla bla pra mim. Continua minha paixão pela área reumatológica, linda, mas afirmo com força(não tanta, também) que me nego a ouvir pacientes poliqueixosos com crises somatoformes, OA ou fibromialgia em 80% do meu tempo. Será que os 20% compensariam? É o que ainda me pergunto. Também há outras magníficas opções em se tratando de clínica médica, vejam só, vejam só. Mas o problema que me aflige é este, exatamente, a clínica. Pra deixar claro, a residência de clínica médica, ou escravidão hospitalar, como preferir. 2 anos rodando o hospital pra virar um pato, e ter, ainda, que prestar novamente estas  belezinhas de provas pra entrar na residência de especialização clínica.
Mudando de direção, ando buscando minha ideologia de vida, e que não soe à Cazuza. Este meu nadir rendeu-me muitas reflexões, esotéricas até, as quais somei com minhas crenças místicas já vigentes em minhas concepções, o que acabou resultando em um conglomerado desorganizado de informações. O legal é que tenho mais esta pedra pra polir(sexualidade, espiritualidade, personalidade, vínculos, residência). Tenho descoberto  que, jocosidade zero, talvez esta margem social, este esoterismo todo, seja confortável pra mim. O que mais gozo no dia-a-dia é a leveza, por vezes inatingível. Hei de me resolver com ela...
Trocando em miúdos creio as poucas sessões de terapia terem me feito muito bem, e as quero de volta, antes que caia novamente. Não estou em condições de levar a menor queda, a mais mínima. Vou que vou no meu projeto residência(apesar de não saber com convicção aonde ele me leva, mas enfim). Ainda aprendendo a lidar com estes cristãos, que impregnam meus dias. Aberto, extremamente aberto, para tantas quantas possíveis novas e transcendentais jogadas.


"Nem pensei
-Impulso-
Pra sanar um momento
Silenciar barulhosMe esqueci de respirarUm, dois, trêsEu paroHoje sei que tenho tudo-Será?-Escrevi em meu colarDentro há o que procuro"


Ribeirão Preto/Sp. 22:43;