quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Remate

Apenas pra rematar, cá uma linda música de um grande compositor brasileiro, com que tenho tido maior contacto ultimamente. Em uma parceria exímia, Ivan Lins escreveu com Paulo César Pinheiro:

''Parei contigo quando saquei teu jogo
de vai e fica, de toma lá... dá cá
Meu coração por ti só passou sufoco,
dando o troco, só dando o troco

Nem me procura pra não ter bate-boca,
não tenho mais cintura pra te aturar
Larga o meu pêlo, vá se roçar nas ostras,
que eu já em outra, que eu já em outra

Perdão é deus quem dá,
pode até pedir que não vai colar
Pra quem me fez chorar,
eu só quero é rir...quá quá quá quá!

Quando eu cortei a tua não foi à toa,
fechei a tampa, mas foi na hora H
Segura a onda, desaparece, voa,
que eu numa boa, que eu numa boa

Cansei de quem só vive criando clima
Vá ver se eu na esquina, mas fica lá
Recuperei de vez minha auto-estima,
com tudo em cima, com tudo em cima''


Perdão é Deus quem dá, meu caro.
Ribeirão Preto/Sp, 20:13;

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Procedência

Quantas as realidades que não procedem. Os fatos que ocorrem, e, verdade seja atingida, sempre ocorreram, sem embasamento. Não creio que seja este o problema, que julgo ser: quantas coisas deixam de ocorrer, e que deveriam. A ausência, o silêncio, o vazio. Quantos elogios recebemos por o que merecidamente realizamos? E quantas seriam as críticas gratuitas, desnecessárias, que vêm sem mais nem menos? Os choques de realidade vão nos permitindo crer, com sofrimento, que o fio da meada se perdeu.
O mérito tem perdido o valor, e vamos nos dando conta disto aos poucos. A cada tarefa sem a devida atribuição, a cada gesto de bom senso, os esforços sem reconhecimento. O que sempre, como nos foi ensinado desde pequenos, acreditamos ser o objetivo não logra retornos, as satisfações que sabemos deveriam haver. Olhe para as grandes realizações completadas, e que se não fosse a auto-satisfação, o que trariam para nós mesmos?
Essa especulação nos faz introverter, aceitar que a vida é boa se for de nós para nós mesmos. O inferno torna-se cada vez mais os outros. Envelhecemos, vamos nos remodelando a figuras progressivamente mais centradas a nossa existência. Os anos passam, os fatos ocorrem, as portas vão se fechando, o contacto empobrece em nosso julgamento e passamos a querer nos abster dele, mais ,e mais, e mais. A esperança, conforme nós, envelhece e se cansa.
Alimentar boa índole, manter-se empenhado como boa pessoa, buscar o bem. Nada disso mais importa. É como se nosso dever, apesar de poucos cumprirem. Aos que atendem à obrigação, neutralidade, apesar de não serem estes a mediocridade. Aos que não atendem, que nos esforcemos para enxergar suas qualidades, e a sociedade sempre enxerga.

''Esperar que a vida lhe trate bem porque és uma boa pessoa é como esperar que um touro não te ataque por ser vegetariano.'' Dennis Wholley

22 anos, nunca precisei me depilar, tenho meus cabelos na cabeça, sou magro, e, acima de tudo, tenho minha saúde. Deixando a neutralidade de lado quanto a esses valores, sou sempre grato, a cada dia.Agradeço à vida.
Ribeirão Preto/Sp, 17:23;

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Interior

Por detrás de atos pecualiares, e, interessante, que rotineiros, há revelações de valores de grande profundeza, apesar de não nos darmos, em muito, conta disto. Processos inconscientes manifestos em plena consciência sem que percebamos, e possamos aproveitá-los completamente. Do inconsciente para o inconsciente, por meio de nós em apta ação cônscia, pouco percebendo. Um presente dele para ele, com o uso de outrem, a ferramenta-chave do processo: o ser em que habita, o próprio ser pensante.Quais seriam as representações reais destes atos, cá me pego a pensar. Que seriam elas para eu mesmo, e para o meu eu desconhecido.

O cômodo silenciador, um banho duradouro: a água quente tocando a pele sensível, o toque no próprio corpo, o sentir de si mesmo, em matéria, o esfregar dos cabelos, a suavidade da espuma que escorre, a umidade que se pronuncia: a redescoberta contínua das próprias percepções, o limite material da personalidade.
Roupas leves, um ambiente neutro de sensações enérgicas, estimuladoras. Apenas ruídos ásperos do atrito, os objetos que se tocam, lá, inanimados, ordenados conforme a própria vontade. Toda a simplicidade - assim julgada por si mesmo, já que relativa à constituição de cada um - representando a interiorização, a desconexão progressiva de tudo fora da auto-limitação.
A taça translúcida, agora tingida pelo vinho. Um alongamento corporal, os músculos irradiando as aferências, que, agora, devem-se esvair do contexto. O contexto é de retração, físico-psicologicamente interior. O contexto é o auto-lirismo, a auto-valorização, o auto-aproveitamento.
A pele que delimita, as cores que brilham nos olhos, o rumor que abala os ouvidos, o sabor que toca a língua. O teor que abafa as reverberações mentais de um poço interno de emoções retidas.
Ribeirão Preto/SP, 22:13;