quarta-feira, 26 de março de 2014

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Em janeiro do ano passado entrei numa vibe de bitolação total no meu projeto residência médica 2014, abracei a doença mesmo, sem medo da brincadeira. Não faltou perturbação mental, garanto a cada um. Foram várias as noites de sonhos com provas e resultados, lindos finais de semanas banhados a cafeína, e poucos os momentos para resolução do meu quadro mental. A coisa andou de maneira que consegui, mais uma vez, parabéns, esquecer de tudo o que tange a minha existência transtornada. A despeito desta minha ênfase constante(nos posts, inclusive), meu namoro se manteve, apesar de que com algumas mudanças sutis, como a abertura do relacionamento e o decrescente da atividade sexual; quanto a minhas amizades, se mativeram também, com menor intensidade de comunicação geral, porém com a reserva garantida, como ocorre com todos velhos bons amigos. Sem delongas, guardei pra residência médica a responsabilidade de resolução de todos os meus problemas, a esperança de uma nova vida(nova cidade, novo lar), era ela o meio de fuga de tudo aquilo que me envolvia, que me consumia. Fuga e resolução. Não lhes admiraria que esteja agora eu colhendo amargos frutos desta minha errada obstinação. Que bola fora, meus amigos. E estava tudo ali, escrito nas estrelas, diariamente... mas não, as portas para o novo mundo eram prometidas.
Enfim, foi um grande método para adiar meus grandes empecilhos psicológicos. Não serei ingrato, confesso que cresci em demasia, em especial com meus conhecimentos médicos, não foram horas e horas diárias jogadas no lixo, não foram, não. Consegui, sim, crescer profissionalmente. Profissionalmente, e só.
Acordo agora na vida para qual lutei durante um ano, na cidade nova, na residência, perto de meus amigos; acordo vazio, sem satisfação, pois acordo todos os dias sem objetivo, sem uma expectativa ilusória de melhora, sem um meio obsessivo de me enganar completamente. 
A realidade me bate na cara todos os dias, e é esta, nua, crua, amarga, rançosa.
Terei de arranjar mais alguma baboseira com que me alimentar,  porque eu não me agüento. Haverá paradeiro aqui dentro? Com a nova vida, e a nova crise que se me aparece, foi-se meu namoro, minha motivação, meu humor, meu não desejo de ebriedade. Pergunto-me se conseguirei focar a vida no profissional, e me tornar um daqueles velhos que vejo na universidade todos os dias, me enchendo de merda a cabeça, tão bitolados quanto qualquer outro, em suas vulvas, seus exames, suas contas bancárias, suas hierarquias suas porcarias particulares; porém me enoja este fado. Quero fazer de meu fado outro, mais leve, menos material, menos bitolado. Mas não consigo, atualmente, fugir da mentalidade de que meu rastro já está pronto a jusante, construído em concomitante com minha personalidade perturbada, que eu ainda hei de conseguir desvendar(forças sobrenaturais pra conseguir acreditar nesta porra toda).

"Haverá paradeiro
 para o nosso desejo,
 dentro ou fora de um vício?

 Uns preferem dinheiro,
 outros querem um passeio
 perto do precipício

 Haverá paraíso,
 sem perder o juízo e sem morrer?"

São Paulo/Sp, 17:13;