sábado, 21 de junho de 2014

Monossexual

Como jovem do início do século XXI, pergunto-me amiúde sobre o inexorável idealismo monogâmico da sociedade ocidental, que abala os instintos mais primitivos do ser humano, mas continua como padrão social de moral e bons costumes. Já tivemos a geração baby boom, as pílulas anticoncepcionais e as minissaias, o movimento feminista e direito de prazer sexual às mulheres, e mais recentemente o reconhecimento da identidade transgênera, o movimento gay, a normoconscientização do sexo oral e anal entre os heterossexuais. Mas permanece irrefutável o ideal de monogamia entre casais, os mais variados, como padrão de base da família. Definição interessante esta, a de família: o casal copula, procria e segue toda a vida unido, como prova de dignidade e amor eterno.
O DNA estremece, está escrito lá, se você pegar para analisar os nucleotídeos dos cromossomas sexuais você lerá em letras maiúsculas: o sexo é instintivo, a monogamia é artificial, não existe amor eterno, não existe tesão que dure uma vida inteira. É ridiculamente óbvio para ser encarado pela população cristã como fato real, porém toda população é vítima deste maravilhoso fado. É ridiculamente nítido na história da humanidade que a monogamia não funciona, que o casamento não dá certo, e que a traição não é a maior falha do relacionamento. A traição, a propósito, é o quê? Eu nunca entendi ao certo, sinceramente. Transar com uma terceira pessoa, beijar, dar pinta, gozar pensando em pornografia, olhar a bunda de um transeunte. Tudo isso é traição, sociedade? Então me revelem uma maneira de evitar o adultério, de evitar me acordar molhado de um sonho fantasticamente real e estupendo. Oh, sim, o melhor e mais bem aceito método é fechar os olhos, e continuar a vida a despeito de toda a natureza de nosso sangue. Não há meios para o qual, e caminhamos ao relento, vivendo relações que serão descartadas pelo nosso subconsciente pelas mais diversas causas: culpa, descrença, medo, raiva, nossa mãe, o primo com o qual se se masturbava na infância e sabe lá Freud o que mais nessa porra toda que é nossa psique vulnerável. Mas aí estão eles, os casamentos, os noivados, as alianças de ouro, as bodas de lata, e as famílias felizes correndo no parque nas tardes de domingo, com os cachorros tendo o cocô empacotado em sacos plásticos para ser descartado por um bom cidadão. Por trás dos bastidores sempre a mesma história: uma secretária carente, uma empregada sem vintém, um cliente simpático e receptivo com a cura para todos os males, as bundas enlaçadas num justo biquini amarelo gema, e lógico, as mentes com as mais sortidas pertubações que o casamento pode causar. Vamos ir, continuar a seguir frente a este teatro cujo palco é o século XXI ocidental, com as famílias sofrendo os mesmo males de toda a história da civilização.

 A verdade é uma só, a humanidade sempre girou em torno de drogas, sexo, dinheiro e diversão para se esquecer desta realidade. Só muda a tecnologia na qual está inserto o ser humano para saber como ele vai atuar e dançar esta música maravilhosa que é a vida.

"Quando repara no meu cabelo
Quando pergunta do meu passado
Quando precisa comprar cigarro
Porque acordado de um pesadelo
Quando sai cedo terno escovado
E volta como quem foi linchado
Ele acredita que me engano
Pensa que sabe mentir o homem que eu amo
Ele acredita que me engano,
Pensa que sabe mentir o homem que eu amo"
São Paulo/SP, 19:09;

quarta-feira, 26 de março de 2014

Busca

Em janeiro do ano passado entrei numa vibe de bitolação total no meu projeto residência médica 2014, abracei a doença mesmo, sem medo da brincadeira. Não faltou perturbação mental, garanto a cada um. Foram várias as noites de sonhos com provas e resultados, lindos finais de semanas banhados a cafeína, e poucos os momentos para resolução do meu quadro mental. A coisa andou de maneira que consegui, mais uma vez, parabéns, esquecer de tudo o que tange a minha existência transtornada. A despeito desta minha ênfase constante(nos posts, inclusive), meu namoro se manteve, apesar de que com algumas mudanças sutis, como a abertura do relacionamento e o decrescente da atividade sexual; quanto a minhas amizades, se mativeram também, com menor intensidade de comunicação geral, porém com a reserva garantida, como ocorre com todos velhos bons amigos. Sem delongas, guardei pra residência médica a responsabilidade de resolução de todos os meus problemas, a esperança de uma nova vida(nova cidade, novo lar), era ela o meio de fuga de tudo aquilo que me envolvia, que me consumia. Fuga e resolução. Não lhes admiraria que esteja agora eu colhendo amargos frutos desta minha errada obstinação. Que bola fora, meus amigos. E estava tudo ali, escrito nas estrelas, diariamente... mas não, as portas para o novo mundo eram prometidas.
Enfim, foi um grande método para adiar meus grandes empecilhos psicológicos. Não serei ingrato, confesso que cresci em demasia, em especial com meus conhecimentos médicos, não foram horas e horas diárias jogadas no lixo, não foram, não. Consegui, sim, crescer profissionalmente. Profissionalmente, e só.
Acordo agora na vida para qual lutei durante um ano, na cidade nova, na residência, perto de meus amigos; acordo vazio, sem satisfação, pois acordo todos os dias sem objetivo, sem uma expectativa ilusória de melhora, sem um meio obsessivo de me enganar completamente. 
A realidade me bate na cara todos os dias, e é esta, nua, crua, amarga, rançosa.
Terei de arranjar mais alguma baboseira com que me alimentar,  porque eu não me agüento. Haverá paradeiro aqui dentro? Com a nova vida, e a nova crise que se me aparece, foi-se meu namoro, minha motivação, meu humor, meu não desejo de ebriedade. Pergunto-me se conseguirei focar a vida no profissional, e me tornar um daqueles velhos que vejo na universidade todos os dias, me enchendo de merda a cabeça, tão bitolados quanto qualquer outro, em suas vulvas, seus exames, suas contas bancárias, suas hierarquias suas porcarias particulares; porém me enoja este fado. Quero fazer de meu fado outro, mais leve, menos material, menos bitolado. Mas não consigo, atualmente, fugir da mentalidade de que meu rastro já está pronto a jusante, construído em concomitante com minha personalidade perturbada, que eu ainda hei de conseguir desvendar(forças sobrenaturais pra conseguir acreditar nesta porra toda).

"Haverá paradeiro
 para o nosso desejo,
 dentro ou fora de um vício?

 Uns preferem dinheiro,
 outros querem um passeio
 perto do precipício

 Haverá paraíso,
 sem perder o juízo e sem morrer?"

São Paulo/Sp, 17:13;